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Do diagnóstico para a vida

Responsável pelo setor de transplantes hepáticos da Unicamp, Ilka Boin explica como acontece o diagnóstico de doença hepática

Algumas patologias possuem, como uma opção visando a melhora da qualidade de vida do paciente, o transplante do órgão afetado por um novo. No caso de doenças renais, o diagnóstico para que seja realizado o transplante é uma alternativa à diálise. A cirurgia para recebimento de um novo rim envolve o enxerto do órgão, conexão dos vasos sanguíneos e o trato urinário do receptor. Já para os casos hepáticos, o tratamento não é efetivo. O único caminho para que o paciente volte a ter uma vida saudável é o transplante. 

Para que um paciente esteja na fila de transplante, o caminho percorrido por ele com certeza não foi fácil. Ter em mãos um número, indicativo de qual será a sua chamada é decorrente de um diagnóstico prévio.

A coordenadora e responsável pelo setor de transplantes hepáticos da Unicamp, Dra Ilka Boin, explica que existem diversas doenças que levam um paciente a necessitar de um transplante. Um deles, e o mais recorrente e conhecido é a cirrose.  Essa doença faz com que a anatomia normal do fígado seja substituída por tecido de cicatrização, deteriorando a função hepática. “Esse caso mais recorrente é causado por vírus ou até mesmo por função genética”, conta. 

Ela também conta que, por conta das melhorias em equipamentos, foi possível passar a detectar, muito mais cedo, as doenças que atacam os tecidos hepáticos, como por exemplo, o câncer. 

Já para a realização do transplante de fígado, o procedimento só acontece quando o órgão já deixou de funcionar. Costuma haver o enxerto de apenas parte do fígado retirado de um doador vivo, entre 20% a 60%. Essa prática é comum quando o receptor está na faixa etária de até 14 anos e tem altas chances de sucesso devido à capacidade de regeneração do órgão, no qual casos bem sucedidos indicaram recuperação de até 90% do volume normal do fígado.

A medula óssea, para ser submetida a um pedido de transplante, exige um diagnóstico no qual o paciente apresenta alguma doença no sangue, como por exemplo a leucemia. Desta forma, o transplante do líquido interno da medula possibilita a recuperação e melhor combate à patologia, aumentando a expectativa de vida do receptor.

 

A espera na fila

O Brasil registrou em 2016 o maior número de doadores efetivos da história, sendo 2983 doadores, segundo dados do Ministério da Saúde. Ainda assim, o número não é o esperado e nem suficiente para acabar com as filas de espera. Quando se fala em doar órgãos ainda há muitas barreiras que precisam ser quebradas, tanto do lado informacional quanto da estrutura financeira do país, como explica o neurologista da CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba), Moisés de Oliveira Lara. “Nossa maior dificuldade com certeza ainda consiste na desinformação, na ignorância do assunto por grande parte da população e também nas dificuldades por sermos um país que ainda é bastante carente do ponto de vista econômico”, explica.

Apesar dos obstáculos, o médico elogia o sistema de transplante, de diagnóstico e de captação de órgãos do Brasil, mas os problemas não são apenas estruturais. Ainda há pouco conhecimento sobre todo esse processo e a desinformação acaba prejudicando um melhor desempenho quando o assunto é doação de órgãos. 

Depois da detecção da doença, o paciente é encaminhado para um Centro Transplantador, ou seja, hospitais autorizados a realizar esse tipo de procedimento. Ilka fala que nessa etapa, os médicos responsáveis vão analisar qual será o momento em que esse paciente será inserido na lista de transplante. 

É preciso destacar também que, nem sempre os casos genéticos, aqueles que são detectados desde o nascimento necessariamente precisarão entrar imediatamente na fila. “Existem casos em que recém-nascidos são diagnosticados com a doença alfa1-antripisina, mas é preciso esperar a manifestação da doença e posteriormente descompensação para então dar continuidade a intervenção cirúrgica”, fala. 

Para outros órgãos, o processo é o mesmo. Nos casos renais e até mesmo em casos de medula, é preciso que o paciente passe pelo diagnóstico e ainda assim, espere o momento certo dessa etapa. “Hoje, o que mais se estuda é qual seria o ponto certo para o transplante. É ruim para o paciente que ele seja feito no ponto imediato de descobrimento da doença como também não é possível deixar que esse estado se agrave. Está aí um ponto muito frágil para os médicos”, comenta.

 

Você vale muito mais morto do que vivo

O comercio ilegal que movimenta milhões no mundo todo

Qual o valor de um ser humano? A compra e venda ilegal de algumas partes do corpo humano, além de movimentar muito dinheiro, mata milhares de crianças, jovens e adultos pelo mundo todo. Geralmente pessoas de baixa renda muitas vezes se desesperam pela falta de dinheiro e preferem buscar tratamento, remédios e até mesmo órgãos de forma ilegal. Segundo o delegado e professor de direito penal, Dr Emerson Gardenal, além destes fatores, há casos de sequestros, mortes e até pacientes que ainda em vida quando internado em hospitais eram tratados como mercadorias a serem vendidas. 

Essa situação acabou se tornando corriqueira no Brasil. Segundo as estatísticas apresentadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 15 mil rins são vendidos no mercado ilegal de órgãos todos os anos. Hoje, traficar órgãos, significa grandes lucros para o traficante e grandes consequências para as pessoas que se submetem a vender o seu próprio órgão em troca de dinheiro. Segundo o delegado e professor, o que mantém vivo este mercado, é a falta de órgãos para o transplante legal. Segundo ele, essa situação acaba gerando uma supervalorização dos órgãos atraindo criminosos que visam ao lucro.

A lei 9434/97 no artigo 3º, diz que “a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica (...)”. Dr Emerson atribui a ignorância das famílias em entender que o paciente já está morto nesta situação. Mesmo com órgãos como o coração ainda com batimentos. É neste momento em que há negativa da doação, consequentemente atrasando ainda mais as filas.

 

 

 

 

 

 

 

Mesmo com fiscalizações pesadas e a segurança que instituições médicas passam dizendo que o transplante de um órgão de forma irregular é difícil, ele ainda acontece. E você? Sabe quanto custa um órgão? O portal Medical Transcription publicou um infográfico com os valores que os órgãos são vendidos no tráfico internacional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confira a lista completa com os valores dos órgãos relacionados pelo site no comercio ilegal internacional:

  • Par de olhos – US$ 1.525;

  • Escalpo – US$ 607;

  • Caveira com dentes – US$ 1.200;

  • Ombros – US$ 500;

  • Artéria coronária – US$ 1.525;

  • Coração – US$ 119 mil;

  • Fígado – US$ 157 mil;

  • Mão e antebraço – US$ 385;

  • Litro de sangue – US$ 337;

  • Baço – US$ 508;

  • Estômago – US$ 508;

  • Intestino delgado – US$ 2.519;

  • Rim – US$ 262 mil;

  • Vesícula biliar – US$ 1.219;

  • Pele – US$ 10 por polegada quadrada.

O desespero por ver cada vez mais sua saúde precisando de cuidados e as possibilidades se esgotando, o comerciante Aldo Bonamin, esperou por dois anos um rim. Com a situação ficando cada vez mais crítica, Aldo viu no seu desespero a oportunidade da compra um órgão pelo mercado ilegal. Para ele, mesmo reconhecendo a irregularidade do processo, o comerciante fala que vê a doação de órgãos em vida uma opção. “É uma opção. Se tem condições de comprar e pagar não vejo problema”, afirma.

 

 

Mesmo acreditando ser o único meio de ter sua vida novamente, após dois anos, pessoas como Aldo teve a chance  de ter seu transplante realizado. “Eu ia renovar e atualizar meus exames da fila de espera só quando eles pedissem, mas, resolvi ir lá fazer. Uma semana depois, eu estava esperando meu rim novo”.

O número alto da fila de espera desanima pacientes que necessitam de um transplante. Mas, ele fala que nada é mais importante do que a esperança. “A gente acha que nunca vamos conseguir, mas sou a prova viva disso”.

A esperança de quem está nas filas por um órgão, é diária. E a opção da compra ilegal, apesar de errada, caminha lado a lado com a espera que parece não se findar.

MARA
SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTES
COMÉRCIO ILEGAL
DIAGNÓSTICO

Morte encefálica

Quando se fala em doação de órgãos e transplantes, esses procedimentos não se restringem somente às pessoas vivas. Em muitos casos, acontece morte encefálica, que é a parada de todas as funções neurológicas do cérebro, e quando ela é afirmada não há mais recuperação. O desconhecimento sobre o que é a morte encefálica também leva a muitos casos de rejeição de doação por parte da família. Diante desta situação e do atestado de morte, os familiares são comunicados sobre a possibilidade da doação de órgãos, caso seja da vontade dos responsáveis que ficaram ou até mesmo do falecido, tendo ainda vida comunicado a todos. 

A atuação do Sistema Nacional de Transplantes

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) comemora em 2017, 20 anos de existência. O SNT foi criado pelo Decreto nº 2.268 de 30 de junho de 1997, como entidade responsável pelo controle e monitoramento do processo de doação de órgãos e tecidos e transplantes realizados no país, com o objetivo de desenvolver o processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do corpo humano para fins terapêuticos. 

Desde a sua criação, a SNT tem o objetivo, sobretudo, de reduzir o tempo de espera dos pacientes na lista de transplantes, além de melhorar a qualidade de vida desses mesmos pacientes que aguardam pelo procedimento. 

O país, hoje, tem o maior sistema público de transplantes do mundo, e realiza cerca de 90% dessas cirurgias na esfera pública, ou seja, usam recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) que oferece assistência integral ao transplantado. 

Ainda no decreto, o Ministério da Saúde, órgão central do SNT, criou uma unidade própria em sua estrutura, denominada Coordenação Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT), para coordenar as atividades. Para exercer as atividades pertinentes às unidades federadas foram criadas, em cada UF e vinculadas à Secretaria Estadual de Saúde, a Central de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO). Já as condições técnicas e operacionais de transporte e distribuição, são de responsabilidade da Central Nacional de Transplantes (CNT).

Informações: Ministério da Saúde do Estado de São Paulo.

MORTE ENCEFÁLICA
A ESPERA NA FILA
Dra. Ilka Boin -
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Dra. Ilka Boin -
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Dra. Ilka Boin -
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MOISES
Emerson Gardenal - Delegado
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Emerson Gardenal - Delegado
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Emerson Gardenal - Delegado
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